quarta-feira, fevereiro 23, 2005

Antes Fantasia

Quando se ama assim...completamente
Parecendo não ter fim...
Não custa chorar nem rir
Nem custa viver... ou sorrir...
Acha-se sentido no insignificante
Prende-se uma fita à nossa vida
Mergulha-se de cabeça... e de rompante
Vive-se "feliz" e sem saída.

Sem saída para ver realmente
O que nos prende de verdade.
Mas eu vejo... Vejo além do mar
Onde nado arrastando a realidade...

Olho para a noite e vejo o sol,
Como se o dia nunca findasse
E vejo as estrelas brilharem
Como se dos teus olhos se tratasse.
Porque o mundo gira por ti
A vida existe... o dia não tem fim
A noite cresce e vive por mim
A vives tu, e nós viveremos sim...

Juntos pela vida e mergulhados na alegria
de sentir viva, hoje, o que antes foi..."fantasia".


Cathy

segunda-feira, fevereiro 21, 2005

Existir Pelo Prazer de Não Ser Útil

Quem prestado atenção ao blog, percebeu já que a leitura é para mim um prazer, comparável apenas a... pequenos grandes momentos que guardo só para mim... No fundo do coração, como se fosse uma paisagem que só eu posso admirar... E como qualquer paisagem, é sempre única e de difícil descrição. Como se diz no livro As Cores Do Crepúsculo Estética do Envelhecer de Rubem Alves:

«"O que sinto, a verdadeira substancia com que sinto, é absolutamente incomunicável; e
quanto mais profundamente sinto, tanto mais incomúnicável é", diz Bernardo Soares. As paisagens da alma não podem ser comunicadas. A alma é o lugar onde os sentimentos são profundos demais para palavras. "Calamos", diz Sor Juana, "não porque não tenhamos o que dizer, mas porque não sabemos como dizer tudo aquilo que gostariamos de dizer".»

Foi por isto que transcrevi esta parte e por tudo o que sinto sem conseguir concretizar em palavras suficientemente explícitas, daquilo que tenho cá dentro de mim... Tento por meio de outras "vozes", passar um pouco daquilo que se pode recolher de modo a... tornar menos difícil a nossa partilha de... Emoções.
É também por isto que deixo mais um excerto, ainda do livro referido, mas desta vez nada acrescentarei. É daquelas "paisagens" que cada um tem de observar e... mergulhar nela... deleitar-se e... aprender a Ser, unicamente pelo prazer de não ser útil...

«(...) Takeshi Nojima (...) com 80 anos (...). Prepara-se para prestar vestibular de medicina. E ele explica-se: "Parte da minha vida passei cuidando dos meus pais. Outra parte cuidando dos meus filhos. Chegou, finalmente, a hora de cuidar de mim mesmo. Sempre sonhei estudar medicina. Quero agora realizar o meu sonho".
(...)
O meu primeiro impulso foi o de rir ante a loucura de um velho. Será que ele não sabe somar os anos? Será que ele não tem consciência dos limites da vida?
(...)
"É claro que ele sabe de todas as coisas. É claro que ele sabe que, provavelmente não haverá tempo para o exercício da sua profissão. Ele sabe que tudo é inútil. E, a despeito disso, fá-lo. Inútil como aquela árvore que não vivia pelos usos que pudesse ter, mas pela sua alegria de ser".
Utilidade. Colheres, facas, vassouras, alicates, martelos (...): são todos úteis. A sua razão de ser é aquilo que se pode fazer com eles. São ferramentas, meios, pontes, caminhos para outras coisas diferentes deles... Em si mesmos, não dão nem prazer nem alegria a ninguém.
Inutilidade. (...) O pequeno poema de Emily Dickinson que repito de cor. (...) o bonsai de que cuido. (...) Não servem para nada. Não são ferramentas úteis para realizar tarefas. Nem são caminhos ou pontes. Quem tem essas coisas não precisa de ferramentas, pois com elas cessa o desejo de fazer. Quem tem essas coisas não precisa nem de pontes nem de caminhos, porque com elas cessa o desejo de ir. Não é preciso ir, porque já se chegou lá, no lugar da alegria. O prazer e a alegria moram na inutilidade.
E pensei então que aquele homem divino ia fazer o seu curso de medicina como quem escreve um poema (...); para nada, pelo puro prazer, pela alegria de ser. (...)".»
Cathy

O Tempo de Ontem

Quero descobrir a rosa que perfuma
este mundo que perdido
nasce, morre e renasce devagar
sem que me possa levantar
e perceber o que perdi...
ou ganhei por nao gozar
as frases que escondi
numa carta por entregar.
Nas mãos do destino
incerto... Libertino...
na força da água que corre
num rio que não pára
duma vida que se move
e aqui escancara
sua raíz... sua razão.
seu pedido de perdão
por ser hoje a vida parada
levada pela corrente
acorrentada pela âncora
pesada e presa na minha mente
perfurada com o teu olhar
mas que fatalmente caiu
nas profundezas do mar.
Cathy(2004)


Hoje a minha felicidade sorri
grita de contentamento
porque viu no teu olhar
e sentiu na tua voz
o seu coração cantar
uma música que embala
o meu amor a chorar
por ser grande e crescente
por ser frio, de não ser gente
por querer dar e receber
porque não é anjo
é humano e é presente...
é nosso e é quente
e abrasa e refresca
conforme a vontade "protesta"
A felicidade hoje sorriu...
porque...
uma palavra muda um olhar
porque um momento
é qualquer coisa a navegar
em constante movimento
que agora é luz, é arco-íris
daqui a pouco névoa e escuridão
e mais tarde um temporal
que acabada a devastação
se ergue das cinzas e..
renasce no esplendor do meu coração.

Cathy(2004)