sábado, fevereiro 26, 2005

Encontro...(Com a Lua?)

E eu deixei-me ficar ali...parada.

Achei que o tempo não vivia, porque no relógio o ponteiro não andava e apenas a noite crescia no meu olhar já escuro de natureza, vazio agora pela tristeza.
As folhas no chão não se moviam, porque não havia vento - não havia nada naquele momento - apenas o ar parado como se o mundo estivesse desorientado, na busca do seu lugar.
Passos...
O meu peito bateu de repente... O olhar moveu-se de dentro e cá fora espalhou-se pela rua e... eis que nasce o desalento - era apenas a lua .


- Que desilusão! - Disse, em forma de descontentamento.
Então a lua sentou-se, no meio das estrelas, deixou-se olhar para mim e disse:
- Desilusão? Porque choras tu, debaixo do céu estrelado? Porque caminhas esse olhar sozinho, neste frio do caminho?
Quis responder, mas eu não encontrei palavras, entao...
- Que horas são? O meu relógio está parado.
A lua deu uma gargalhada e disse:
- Mais valia que o tivesses perdido, que estares aí a ele agarrada, como se fosse preciso relógio para marcar as horas do momento em que chegará o que procuras.
- Mas... - Quis interromper e não consegui.
- Devias apenas pegar no teu corpo e caminhar até à luz. A única que te ilumina, aquela que te seduz. Largar esse relógio que o tempo reduz e marcar com sorrisos os espaços que ele traduz. Olhar de fora aquilo que escondes aí dentro e não perder um minuto desse teu sentimento.
Que encontro inesperado. A lua, eu e... tudo o que até hoje tenho procurado.
Uma sombra qualquer, que não passe de sombra porque apenas quero sentir; que não passe de cheiro, pois só o seu aroma, e que seja apenas aquela sombra sem tempo, que se deite em mim e se demore no meu sentimento.
- Lua. Eu só tenho o relógio para disfarçar... fingir que existe tempo para marcar. Mas sei que o tempo, para aquilo que procuro, não se mede com relógio... este apenas da-me segurança.
- Segurança? - Perguntou a lua.
- Sim... para não esquecer que tenho que levantar o meu corpo e caminhar, esquecer que mais um dia passou e olhei, e o meu olhar não encontrou, o que todos os dias vê, mas nunca minha "mão" tocou. É preciso marcar o limite da minha espera, senão a vida passa e eu serei Era... a planta que cobre o chão, mas que infelizmente apenas cobrirá solidão.
Passos...
- Perdi o relógio.
E a lua disse:
- Não faz mal. Guia-te pelo coração.
Cathy

3 comentários:

Luís disse...

A Lua dá bons conselhos Mor.. Na verdade adorei o texto. Está muito bonito bem elaborado.. e na minha opinião é uma boa filosofia de vida.. mas não 100% segura como tu e eu já sabemos, temos estar sempre ligados à realidade e aos factos, e enfrentar os caminhos sinuosos que nos aparecem pela vida. Mas gostei, adorei o texto..e sim tem situações na vida em que temos obrigatóriamente de dar mais atenção ao coração. Eu ouço, o teu, e vejo que me chama, que diz que me Ama. Olha para mim, bem nos meus olhos, sabes que vês? Sim.. Eles, os olhos, são o espelho do meu coração que a ti te pertence. Jinhos.

Olha para a lua ela sabe... :***

nqdn disse...

É sempre um prazer ler-te!
Com uns pequenos retoques ficaria perfeito.
Escreve, escreve, escreve...

Instantes Perdidos disse...

Que texto prosaico lindo.

Adorei.